03/12/2005
Confira a entrevista exclusiva de Rafael Surforeggae com a Bambu Station, uma das maiores bandas da atualidade!
 
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Mais uma vez fomos abençoados por ter a oportunidade de compartilhar conhecimento e falar da verdade com algumas das pessoas mais inteligentes com as quais já conversamos. Foram momentos únicos e espero que vocês visitantes possam também mergulhar nesse mundo das Ilhas Virgens que revelou bandas como Midnite e adquirir um pouco mais de conhecimento e saber mais sobre uma das maiores bandas de Reggae do mundo – Bambu Station.

A ENTREVISTA


 Rafael: Vocês poderiam falar um pouco da história da banda Bambu Station ? Como foi o começo e tudo mais ?
Jalani Horton: Em 1996 tive a idéia de formar uma banda para tocar as músicas que eu estava escrevendo. Sempre gostei de reggae roots e outras várias formas de música, mas me senti mais “em casa” tocando Reggae. Ainda em 1996 fiz diversas pesquisas e meditei bastante sobre como viria a se chamar a banda que estava prestes a se formar. Primeiramente eu decidi pela palavra “Station” que simboliza um lugar ou organização que é responsável por divulgar a música às massas. Eu senti que tinha uma missão ou ao menos uma visão do que a banda seria. Não apenas tocar música, mas sim divulgá-la pelo mundo afora.

O nome Bambu tem um significado pessoal por trás dele, e para mim significa voltar às minhas raízes. Para mim fez sentido que se eu quisesse cantar e criar música de raiz, seria mais evidente se essas raízes viessem de mim mesmo.
Em 1997 eu recrutei alguns músicos e a primeira formação da banda nasceu após alguns meses de ensaios. Trabalhamos com essa formação durante dois anos e gravamos o álbum “Congo Moon” no verão de 1999.

Em dezembro de 1999, Andy Llanos entrou para a banda e em maio de 2000 eu decidi seguir uma direção diferente e continuei a trabalhar apenas com ele. Nós gravamos o single “Amadou Diallo” com a ajuda de Tuff Lion, que mais tarde, em 2002, entrou para o grupo. Warren Pedersen II entrou para a banda em 2003 e chegamos à atual formação. Eu poderia entrar mais nos detalhes, mas para essa pergunta acho que isso é tudo por agora (risos).

 Rafael: O que vocês acham da comparação entre Bambu Station e a banda Midnite ?
Jalani Horton: Nós não somos muito questionados sobre essa comparação com o Midnite, mas é de se esperar, já que ambas as bandas são das pequeninas Ilhas Vigens e tocam Reggae raiz na sua forma mais pura. Nós ainda dividimos os mesmos gostos musicais que nos ajudam a apreciar ainda mais a sutileza e nuances que fazem do reggae raiz o que ele é – uma experiência emocional e de muita meditação.

Midnite é uma grande banda, portanto se somos comparados com eles, estamos no caminho certo. Nós estamos confortáveis com nossa própria identidade e acreditamos que levamos isso para a nossa música. O que mais acho que há em comum é o “baixo pesado” e as raízes evidenciadas. Se somos comparados... então que seja “Um sangue, um coração, mesma emoção, mesmas cicatrizes”

 Rafael: Vocês poderiam definir cada um dos álbums da banda e dizer sobre a importância de cada um deles para a carreira como um todo ?
Jalani Horton: Os lançamentos do Bambu Station são:

 Conto Moon (1999): Esse foi o nosso primeiro lançamento, mas foi bastante limitado na sua quantidade de cópias, já que trabalhamos com o pequeno selo “High Rotation”. Mesmo sendo limitado, recebeu bastante atenção, tendo uma música sido selecionada para uma compilação que visava ajudar a arrecadar dinheiro para crianças com AIDS. Nós ficamos muito orgulhosos com isso, já que faz parte da nossa missão de dar as mãos ao próximo quando é possível. Quando viajamos para outros países sempre tentamos fazer eventos de caridade, como visitas, conversas e shows com as crianças que não tem a chance de ir até nós e ouvir a nossa música. As crianças não são apenas o nosso futuro. A condição delas representa o estado da humanidade no Planeta Terra. Talvez “Um Dia” o mundo irá ver uma “Congo Moon” (fazendo referência ao álbum “One Day” e ao “Congo Moon”).

 Talkin’ Roots Volume I (2002): Esse lançamento foi muito importante para nós, pois ajudou a trazer reconhecimento a muitos artistas das Ilhas Virgens, os quais sentimos que mereciam tal atenção. Artistas como Iba, Star Lion Family, Natty Empress, Ahnk Watep, Dezarie e Yah Shiloh I são vocalistas e compositores muito poderosos. Talkin’ Roots I foi uma bênção para nós, pelo fato de podermos ajudar a disseminar boas notícias sobre artistas das Ilhas Virgens.

 One Day (2003): "One Day" nos ajudou a mostrar ao mundo como é o som do Bambu Station. O álbum destaca a relação do o homem com o quebra-cabeça da vida; questões práticas, soluções práticas oferecidas com esperança e convicção para elevar o espírito de Deus. “One Day” foi muito especial, pois foi divertido e gravado de uma forma bastante natural. Ele envolveu amigos que se divertiam e vibravam tocando uns com os outros. Na maioria das músicas, tivemos Andy Llanos no baixo, Phil Merchant (baixista do Midnite) na bateria e eu, Jalani Horton na guitarra e nos teclados. Logo depois veio o Tuff Lion e participou do álbum fazendo um trabalho verdadeiramente artesanal com a sua guitarra. Ele não participou do álbum desde o início, pois estava em turnê com grandes artistas do Reggae, como The Itals. “One Day” foi o início para o Bambu Station no sentido de com o coração trazer positividade e consciência ao som.

 Talkin’ Roots II (2005): Nós sentimos que nossos objetivos foram alcançados com o Volume I e que teríamos que fazer um Volume II. Muitos artistas das Ilhas Virgens continuavam sem atenção ou sem gravar e nós queríamos que o povo desse atenção a eles. Gravamos também alguns artistas muito conhecidos das Ilhas Virgens, como Army e Danny I. Esse álbum irá nos ajudar a continuar nossos esforços para que as diversas vozes das Ilhas Virgens possam ser escutadas em todo o mundo e também solidificar uma indústria de artistas no local.

Nossas ilhas são muito pequenas, assim como as oportunidades, por isso, todos os esforços ajudam nesse sentido. Esse álbum é cheio de energia e fervor de St. Croix e St. Thomas juntamente com outros artistas da Virginia e Pensilvânia nos Estados Unidos, além da pequena ilha de Montseratt. Em 2006 iremos lançar nosso novo álbum. Por enquanto o título é “Bird’s I View” mas poderemos mudar à medida que novas músicas forem sendo desenvolvidas. A princípio achamos que estaremos prontos para lançá-lo em Março. É um álbum muito bonito e tão “penetrante” quanto “One Day”, porém com músicas um pouco mais esperançosas e de celebração. Esperamos que as pessoas gostem, assim como nós.

 Rafael: Por favor, nos fale um pouco sobre as Ilhas Virgens, suas características, como cultura, política, sociedade e tudo mais.
Jalani Horton: Quando falamos em Ilhas Virgens, falamos sobre diversas ilhas com famílias espalhadas por cada uma delas. No entanto elas são separadas pelos governos Inglês e Americano (EUA), que são os supostos “donos”. Onde nós estamos, nas Ilhas Virgens Americanas, existem St. John, St. Thomas e St. Croix, a maior de todas. Os primeiros moradores dessas ilhas foram índios Chiboney, Arawaks e Caribenhos. Eles morreram quando os homens brancos vieram e pilharam as riquezas, seqüestraram e estupraram nativos e nativas e espalharam doenças que exterminaram todo esse povo.

Povos indígenas não existem mais nas Ilhas Virgens Americanas. Em 1493, Cristóvão Colombo viu as ilhas e clamou que elas viriam a pertencer à Espanha. Após isso houveram séculos de guerras entre a França, Inglaterra e Dinamarca pelo direito de posse perante as ilhas. Ao longo desse tempo, Africanos eram escravizados e enviados para povoar essas ilhas para produzir rum e cana de açúcar para exportação. Em julho de 1848 aconteceu uma séria revolta em St. Croix e o governador proclamou o fim da escravidão no dia seguinte.

Em 1917 os Estados Unidos compraram St. Thomas, St. Croix e St. John da Dinamarca por 25 milhões de dólares em ouro para aperfeiçoar a sua posição militar no hemisfério oeste. As ilhas foram governadas pela marinha Americana até que o primeiro governador foi eleito em 1970. Atualmente nós elegemos governadores a cada 4 anos e senadores a cada 2 anos. A economia baseada no turismo foi construída por ricos fazendeiros que são donos da maior parte da ilha hoje. Não é coincidência que eles ganharam bilhões de dólares após terem se posicionado estrategicamente para colher a maior parte do que vem da indústria do turismo. Nossas ilhas são altamente influenciadas pelas culturas Africanas e Latinas. A influência Rastafari é muito presente, mas o Cristianismo é a religião predominante.

A música mais famosa na nossa terra é o Calypso (ritmo caribenho) e celebramos o Carnaval em cada ilha 3 vezes ao ano. Nossos políticos na maioria são os mesmos em toda a parte das ilhas Americanas. Todos estão lutando para se eleger e fazendo promessas, mas ninguém quer tomar decisões sérias para equilibrar o orçamento e atingir metas realistas para o governo. A palavra político não inspira muita confiança e a população é muito apática nesse sentido. Nosso governo é fundamentalmente ineficaz, sem visão e não adequado. Nossas escolas públicas são um desastre. Professores geralmente não são valorizados e respeitados por sua tarefa importantíssima de ensinar nossas crianças e há muito nepotismo e camaradagem causando um impacto altamente negativo para o governo.

O que eu posso dizer é que podemos não estar passando o pior no momento, mas mesmo assim é muito difícil ter que digerir essa realidade. Na maior parte do tempo, a vida nas nossas ilhas, assim como na maioria das ilhas é lenta, com uma brisa tropical, palmeiras e águas azuis cristalinas. Nós não nos movemos rápido e não causamos tumultos com as pessoas. Somos bastante orgulhosos por qualquer razão e estamos sempre prontos para lutar até o fim por ela. Esse é o nosso caráter, nosso temperamento. Nosso povo vem do sofrimento. A maioria faz parte da classe trabalhadora... enfim, é uma boa terra e tem um bom povo.

 Rafael: Nós sabemos que a gravadora Mt. Nebo Records é hoje uma das maiores fontes de novos artistas do Reggae raiz. Como isso reflete na música das Ilhas Virgens ?
Jalani Horton: Bem... a Mt. Nebo Records foi fundada por pessoas das ilhas e naturalmente promove e distribui a música dos seus artistas. A luta principal é promover e fazer as coisas com qualidade, positividade além de dinamizar a música. Há muitos, muitos cantores e DJs ótimos nas nossas pequenas ilhas, eles apenas precisam de uma chance de serem ouvidos e por isso fazemos de tudo e nos sacrificamos para que isso aconteça. Nós não somos uma grande banda com uma carreira já estabelecida, mas mesmo assim nós oferecemos ajuda aos outros que não são organizados ou informados como nós. St. Croix representa o lugar do Reggae roots, mas é uma das diversas ilhas que foram colonizadas e marginalizadas pelo poder do imperialismo que opera até hoje.

Mas a procura não é apenas por artistas de St. Croix, mas também de St. Thomas, Tortola, St. John e nosso vizinho Porto Rico. Continuaremos a buscar as novas vozes a cada ano além de continuarmos a nossa própria banda. A Mt. Nebo Records em 2006 irá lançar álbums de vários artistas como Ickarus, Niyorah, Kimbe Don, Bambu Station, Iba, Tuff Lion, Black Culture e Ijah Menelik. Esses nomes e muitos outros merecem uma atenção.

 Rafael: Os membros da banda seguem alguma religião? Qual?
Jalani Horton: Eu não sou adepto de nenhuma religião. Não fui educado com nenhuma delas, mas estudei diversas e sempre me fascinei com os aspectos históricos, seus impactos e contribuições de todas para com a sociedade. Eu considero a religião a coisa mais separatista que existe no mundo. Para mim ela é destrutiva e foi calculada e criada por uma sociedade que tem uma mentalidade de controlar os outros e disfarçar os poderes de Deus por trás. Não que eu não respeite a religião de alguém, mas pensar é sempre bom e a realidade deve ser reconhecida ou não haverá chance de paz de verdade.

Eu penso que se lidamos com cada um baseados nas nossas ações, trabalhos e feitos, o mundo será um lugar maravilhoso e saberemos realmente quem é quem. A religião é uma criação do homem e não de Jah. Viver sendo uma pessoa correta, esse é o espírito de Jah e é assim que nós (Bambu Station) lutamos para viver. Especificamente, alguns membros da banda seguem o Rastafari e outros, como eu, são adeptos de acreditar na justiça de Deus que promove a saúde física e espiritual.

 Rafael: De onde vem a inspiração para as letras ?
Jalani Horton: As letras vêm diretamente de experiências da minha vida. Não é nada dinâmico ou baseado na leitura de um livro em particular. É apenas uma avaliação geral e absorção das coisas que fui capaz de discernir ou ganhar como sabedoria. Eu me esforço para que as músicas sejam interessantes de ouvir e cantar junto. Intuitivamente, eu olho para a vida através de uma perspectiva poética. Minhas palavras, pensamentos e preces se manifestam em termos poéticos, e a vida real é a minha inspiração. Eu não sei o quanto isso é diferente de outros escritores, mas é apenas o meu modo. É uma vibração muito difícil de descrever.

Talvez eu possa dizer que a minha forma de escrever vem de uma forma particular de pensamento. Você pode estar caminhando e simplesmente começar a vibrar em um espírito particular. Eu digo, é a inspiração de Jah usando as dores ou prazeres de uma vida e as colocando nas músicas. Vibrações são coisas muito engraçadas, mas através de Jah são uma benção. O mais importante e que está em primeiro lugar é o fato de que minhas letras sempre vêm da verdade da qual estou informado. Deus abençoe essas vibrações e que eu sempre possa as reconhecer.

 Rafael: Para você, há alguma relação entre o Reggae, a ganja e a religião Rastafari ? Qual ?
Warren Pedersen II: Existe uma relação entre a ganja e a fé Rastafari. A planta (marijuana) é vista como um presente de Jah para o uso da humanidade. É um sacramento na fé rastafari que coloca a humanidade em uma conexão espiritual com o mundo, que é a criação de Jah. Olhando pelo lado medicinal, a ganja expande a consciência e entendimento da vida, do universo e da espiritualidade. O Reggae vem de uma “plataforma” Rastafari para expressar a sua fé e amor por Jah, mudanças políticas que afetam o povo e o orgulho e alegria de encontrar a verdadeira identidade individual. A ganja tem sido incluída em algumas músicas de Reggae como uma expressão da fé Rastafari, mas não é um requisito para o Reggae ou para a fé Rastafari.

Você não tem que fumar a ganja para escutar reggae, tocar reggae ou ser um Rasta. Não são todos Rastafaris que utilizam a ganja. Através da comercialização do Rastafari, o uso extravagante da marijuana se tornou uma generalização que a maioria das pessoas fizeram. Se você hoje pergunta a uma pessoa normal o que é um Rasta, ela irá dizer, “É uma pessoa que tem dreadlocks, fuma ganja e escuta reggae o dia inteiro”. Na verdade, há muito mais do que isso. O Reggae e a fé Rasta não é só a ganja.

 Rafael: Nos fale um pouco a respeito do relacionamento entre os grandes selos I-Grade Records, Mt. Nebo Records e os artistas das Ilhas Virgens.
Jalani Horton: A Mt. Nebo Records trabalhou e trabalha com a I-Grade, Sound VIZion e muitos selos e entidades que estão criando e dando uma força à música positiva que vem das Ilhas Virgens. Nós (Bambu Station) aparecemos na produção do álbum “Yahadanai – One Atonement”, da I-Grade e eles apareceram no álbum “Talkin Roots 2”, produzindo a música “Do Good!”. Como você pode ver, muitos músicos, distribuidores, produtores e outros que levam a música adiante, estão trabalhando juntos para o bem comum.

A Mt. Nebo Records tem promovido turnês de cada artista consciente das Ilhas Virgens. Isso é muito bom, pois a comercialização e exploração (no bom sentido) vem de outros lugares, capitalizando os talentos das pequenas ilhas. Quanto mais essas pessoas trabalharem juntas, mais oportunidades elas poderão oferecer aos novos artistas aspirantes a grandes carreiras.

 Rafael: Bambu Station, Iba, Midnite e muitos outros estão elevando o nome das Ilhas Virgens em todo o mundo. O que você pensa a respeito disso ?
Jalani Horton: Isso é muito bom, pois como muitos lugares, as Ilhas Virgens representam bastante sobre o que está errado com a mentalidade ocidental da ambição, capitalismo, educação, medicina e hábitos alimentares. Nossas ilhas são um microcosmo do que não está funcionando. A música ajuda a criar empregos e inspirar os outros para ir sempre fundo nos seus sonhos, metas e visões. Elevar o nome desse lugar é como elevar as mentes dos nossos vizinhos, movendo todos para o espírito de deus, que não pode ser derrubado.

 Rafael: O que você pensa a respeito do novo “curso” que o reggae está seguindo na Jamaica e em muitos lugares do mundo ?
Jalani Horton: De uma forma estranha, eu não me mantenho atualizado com o que é popular ou está na moda no mundo do Reggae, Jamaica, etc. A menos que eu veja um vídeo ou escute o que alguém está tocando em um CD, eu não me importo. Eu não costumo ir a clubes para ter momentos bons e dançar. Eu sou como um hermitão no estúdio, que fica praticando guitarra ou um outro instrumento. Há um tempo atrás eu fiquei sabendo do que está sendo produzido e vendido por aí.

Há certamente uma audiência para tudo isso, e quando eu era apenas um estudante, certamente era um deles. No entanto, como eu dei um passo à frente para viver o positivo, eu não suporto esses trabalhos negativos. Eles são destrutivos e afetam várias pessoas. Atualmente, a mídia utiliza recursos muito efetivos e consegue vender imagens negativas, e estilos de vida destrutivos que afetam nós todos. Muitos homens só ligam para o dinheiro, isso é uma prova de que muita coisa continua a mesma há milhares de anos e talvez sempre exista, no entanto, eu não tenho que aceitar isso, por isso canto minhas músicas.

Eu canto tentando levar aos outros o que eu acredito. Talvez seja apenas para me manter em sanidade, mas com um pouco de esperança eu posso inspirar, informar e ajudar outras pessoas a encontrar um caminho que os faça se sentirem vivos e saber o que a vida realmente é... Uau, essa foi uma pergunta muito pesada. Cada um tem que encontrar o seu caminho e fazê-lo antes que se prejudique muito. Esperançosamente eu respondi a questão, mas apenas para ter certeza, eu volto e digo, o novo curso como você falou não é nada novo. Ele está sempre presente nas nossas comunidades. Felizmente em alguns lugares a música positiva ainda é mais divulgada do que esse lado negativo.

 Rafael: Em que lugar fora das Ilhas Virgens vocês tiveram grande receptividade do público ?
Jalani Horton: Nós fomos abençoados com saúde, força e oportunidade de ver muitas terras diferentes e conhecer muitos anjos. Fomos muito bem recebidos nas ilhas Havaianas de Maui, Oahu, Big Islando e Kauai. Viajamos a diferentes comunidades em Israel. Dimoan, Kibbutz, Zeelim e dois lugares em Tel Aviv. A reação nesses lugares foi muito poderosa. Em um desses shows tivemos que voltar ao palco seis vezes, devido aos pedidos do público que muito nos deixa feliz. Recentemente viajamos para a Holanda e Bélgica e os shows também foram muito abençoados.

Havia um grupo de pessoas que iam a todos os shows e dirigiam várias horas para ver cada um deles. Também fizemos vários shows na costa oeste dos EUA, que é um lugar muito bom para a música de raiz. Lá existem comunidades ativistas que nos receberam muito bem. Fomos literalmente abençoados. Criamos oportunidades e tentamos encontrar aquelas pessoas que gostam das nossas vibrações. Estamos muito esperançosos e queremos encontrar o povo Brasileiro em breve.

 Rafael: Nos fale um pouco a respeito da imagem do Brasil nas Ilhas Virgens.
Jalani Horton: Eu passei muito tempo nos Estados Unidos e posso comentar sob essa perspectiva, além da das Ilhas Virgens, claro. Na realidade, há três imagens que são facilmente citadas quando se fala de Brasil: Futebol, carnaval e mulheres bonitas. Essas são as três imagens dominantes do Brasil e acredito que é assim, pois é exatamente isso que é promovido e divulgado na televisão e nas revistas. Apesar dessas imagens serem muito dominantes eu tive a oportunidade de estudar o seu país e aprendi que ele é muito mais maravilhoso e profundo do que as pessoas possam imaginar.
Estudei o Brasil no seu período colonial e fiquei fascinado pela sua história.

Ele é preenchido de diversidade, conhecimento e pessoas antigas. É uma história muito rica que eu espero que não se perca na sua existência moderna. A maioria das pessoas não sabe que o Brasil tem a maior população de negros e descendentes fora da África. Esse fato teve um impacto muito forte na cultura e energia do país. Esperamos ter a chance de gastar bastante tempo entre as pessoas trocando conhecimento, sentimentos e aspirações. Gostaríamos muito de viajar pelo país e conhecer as características de cada região. Nós falamos muito do Brasil para aqueles que amam a natureza, dizendo tudo o que existe nele. O Brasil sempre me fascinou e espero estar lá em breve para apreciar as pessoas, bem como ser apreciados por elas.

 Rafael: A realidade e a vida difícil num país subdesenvolvido, de “terceiro mundo” tem a ver com as músicas e letras poderosas e "agressivas" do Bambu Station ?
Jalani Horton: Nossa, essa é pesada como uma linha de baixo. Você tocou tocou numa coisa que é muito importante para a nossa música. Som é uma coisa engraçada. É a vibração que vem de uma determinada fonte para nossos ouvidos. Os sons afetam nosso clima, emoções e almas. Há certas frequências no som que promovem sentimentos particulares aos quais estamos interessados.

Nós gostamos de os chamar de “tons da terra”. Nossa música luta para ser agradável e meditativa, para colocar as pessoas no clima de contemplar as coisas, para sentir e relaxar e ainda receber as letras que escutam. Nós estamos interessados em explorar essas realidades da vida e da vida das pessoas. Nós fomos tão oprimidos e vivemos por tempos difíceis e dividimos esses sentimentos e o impacto deles em volta do mundo. Nós esperamos que nossa música alcance as pessoas e os ajude a ter dias ou até momentos melhores. Na real, somos homens tocando diretamente das nossas almas.

Não há nenhuma fórmula sobre isso, é estritamente da nossa corrente sanguínea para o CD. Isso é o que tentamos ser, agradáveis. Falando um pouco do termo “terceiro mundo”, é uma cosia muito engraçada não é? O que vem a ser primeiro mundo, segundo mundo ? Eu os vejo como instrumentos de guerra psicológica. Eu defino um país de primeiro mundo aquele que tem um governo capaz de afetar a vida de outras nações. Eles são sim primeiro mundo, hipócritas de primeira linha, manipuladores e elitistas.

O colonialismo devastou diversas nações que não irão se recuperar jamais se não fizerem mudanças radicais. Sem mudanças radicais o sofrimento e o desespero irão existir por milênios. Pobreza, desespero e os chamados países de “terceiro mundo” não existem por que querem. Que o fogo de Jah queime essas más vibrações. As mudanças um dia virão e o Bambu Station continuará sempre tocando a sua música pesada e com letras sempre informativas que eduquem ou espalhem o amor. Nós jamais iremos distorcer a harmonia, a usaremos sim para a bondade. Deus abençoe.

 Rafael: A banda tem bom relacionamento com artistas da “velha guarda” do Reggae Jamaicano ? Quais ? Nos fale um pouco a respeito disso.
Jalani Horton: Eu não conheço pessoalmente muitos artistas de Reggae Jamaicano, apenas alguns. Posso citar duas pessoas com as quais passei momentos muito produtivos, que foram Half Pint e Merciless. Atualmente Half Pint ficou comigo e meus amigos e nós participamos da marcha de um milhão de homens em Washington D.C (capital dos EUA). Esse dia foi incrível, nos sentimos verdadeiros descendentes de africanos caminhando pela capital da Babilônia.
Apesar de não conhecer pessoalmente muitos artistas, vários deles me influenciaram e me fizeram ter o desejo pela verdade, história do mundo, história da África, dentre outras coisas.

Recebi muitas dicas através de músicas e pensamentos de Mutabaruka, David Hinds, The Wailers, Abyssinians, entre outros. O álbum “Protest” de Bunny Wailer está impresso na minha mente. As letras, melodias, pensamentos são muito poderosos. Esses artistas ajudaram a desenvolver uma geração de soldados que levam a bandeira da verdade pelas nossas pequenas ilhas e por todo o planeta. Portanto, eu tenho grande relacionamento com artistas Jamaicanos (risos). Que Jah abençoe os corretos.

 Rafael: Política e Reggae. O que você acha desse relacionamento ?
Jalani Horton: Essa é uma pergunta para horas de discussão (risos). A política é o comportamento de alguns para influenciar e afetar a política e politicagem de outros. O Reggae é uma música nascida das vibrações de pessoas descendentes da África. A música se desenvolveu na natureza dessas pessoas. Veio do fluxo de vida tropical e em muitos ângulos pode ser comparada ao blues e ao rhytm and blues. Lembre-se que o blues é a raiz da maior parte da música americana. O Reggae é holístico e é muito mais do que política. Ele nos ajuda a dançar, cantar, e como nenhuma outra música fazer comentários a respeito da sociedade.


 Rafael: Por que reggae e não outro tipo de música ?
Jalani Horton: Warren, o baixista teve como primeiro amor o Jazz. Ele foi treinado com violino e saxofone. Andy, nosso baterista, cresceu tocando músicas que carregam uma grande vibração cultural. Os membros da banda realmente cresceram apreciando todos os tipos de música, mas nosso estilo de vida vem do solo e o reggae roots é o que mais carrega esses “tons da terra” que nos traz de volta para casa. Mas não fique surpreso se algum dia ver um álbum de salsa, jazz, R&B ou algo do tipo com nossos nomes nele. Provavelmente não seria lançado como Bambu Station, mas nós também apreciamos esses estilos musicais.

As vibrações de Cuba são poderosas ! Brasil, poderosíssimas ! Nós gostamos muito de artistas Porto-Riquenhos, do oeste da África... Eu amo a vibração do grupo pop U2, Don Henley, Santana, Curtis Mayfield, The Eagles, The Commodores, EARTH, WIND & FIRE. E agora o mundo está tendo a chance de ouvir nossa música que contém influências de vários deles. Nós tocamos reggae, mas nossas vibrações são influenciadas por outros estilos também. A raiz representa nossa alma e o Reggae é a nossa principal forma de expressão.

 Rafael: Qual a proposta da Bambu Station ao fazer Reggae ?
Jalani Horton: Nós queremos sempre fazer o bem. Adoramos participar de eventos de caridade e amamos usar a nossa música para unir as pessoas. Nós queremos muito ajudar a melhorar a situação nas Ilhas Virgens. As crianças por aqui não tem muito o que olhar para o futuro. As escolas são horríveis, os professores são tratados mal e o governo é construído com nepotismo. Nossas famílias estão confusas, nossos garotos estão se tornando homens sem senso de responsabilidade e o Reggae é uma forma de trazer a positividade a essas pessoas. Nós esperamos que quando formos ao Brasil, podermos participar de alguns eventos em orfanatos, escolas ou centros familiares.

 Rafael: A proposta principal do Bambu Station é tocar o reggae raiz original, ou vocês pensam em fazer uma mudança no som, como aconteceu em uma fase da banda Midnite ?
Jalani Horton: Bambu Station irá tocar apenas reggae roots original. Isso é quem nós somos, e o que nos interessa. Se fizermos alguma coisa diferente disso, certamente não será como Bambu Station. Nós tocamos ao vivo, gravamos ao vivo e iremos viver, viver, viver (risos). Eu adoraria gravar um álbum de reggae roots com a Sade. Apesar do Midnite estar mudando um pouco a sua música, quando você os vê ao vivo é o que realmente eles são. O cantor deles (Vaughn Benjamin) é muito versátil e é por isso que existem outros projetos que não são reggae roots.

 Rafael: Nos fale rapidamente sobre o primeiro contato de cada um de vocês com a música.
Warren Pedersen II: O meu primeiro contato com a música foi com o piano, aos seis anos de idade. Meu pai é músico e eu sempre vivi ao redor da música por toda a minha vida. À medida que fui crescendo meu interesse se expandiu. Após o piano veio o violino, seguido pelo saxofone, baixo e guitarra.

Jalani Horton: Meu primeiro contato com a música foi quando minha mãe e tias colocavam no antigo tocador músicas de Calypso (ritmo caribenho) e dos Wailers, bem no começo do Reggae. Eu não fui exposto a instrumentos antes dos 9 anos. Aos 9 eu toquei trombone por seis meses e depois disso não vim a tocar nenhum instrumento até os meus 27 anos. Dos 27 pra cá eu venho me ensinando a tocar piano, harmonica, guitarra, bateria e baixo.
Agora eu vejo que a música está no meu sangue. Os meus avós eram muito bons músicos e faziam bastante sucesso. A música é uma benção, que Jah a abençoe.

 Rafael: E a família dos membros da banda? No início vocês foram encorajados ou não? E agora ?
Jalani Horton: Música e especialmente música de raiz é bem difícil. Não há muito dinheiro se você não estiver fazendo turnês em lugares grandes e vendendo muitos discos. Nós respiramos música e cada pensamento que temos tentamos colocá-los na música. Alguns de nós perderam suas famílias devido ao comprometimento com ela. Algumas pessoas pensam que somos loucos ao fazer a música que fazemos como modo de viver. Nossas famílias gostam da nossa música e estão felizes por nós e pela nossa persistência. Mas muita coisa foi perdida no tempo e nada pode apagar isso.

 Rafael: Vocês conhecem bandas de Reggae Brasileiras ? Quais ?
Jalani Horton: Eu já ouvi diversas bandas de Reggae Brasileiras. Mas a que mais me chamou atenção e a que estou mais familiarizado é a Tribo de Jah. Recentemente fui em Atlanta – EUA para ver a Tribo. Nossa... não é por que eles são cegos que me impressionou. O que me impressionou foi que quando eles tocam roots, eles são roots até o núcleo. O toque, aproximação e espírito é Reggae ! É roots ! Eles não atuam com exagero e sim respeitam o som e a contribuição de cada instrumento para com a música. Eu gostei muito do show deles e as pessoas no local também ficaram alucinadas. A banda toca muito bem, eles são coesos e interagem muito bem com o público. Espero algum dia poder dividir o palco com eles ou até ter a chance de convidá-los a tocar nas nossas Ilhas. Bandas como essa são um modelo para nós. Espero poder conhecer muito mais ainda a música Brasileira, as boas vibrações, claro.

 Rafael: Bambu Station quer vir para o Brasil? Por que essa vinda é importante para a banda?
Jalani Horton: Brasil? Bem... acho que você já sabe a resposta não é ? (risos) Eu provavelmente irei viver no Brasil algum dia. A história é a minha vibração. Warren também ama história. As Ilhas Virgens tem muita diversidade, assim como o Brasil. Eu quero muito ver como os Brasileiros responderão à nossa vibração, nossa música. Se as pessoas gostarem, será uma honra.

 Rafael: O que você acha da difusão do reggae na mídia e conseqüentemente o aparecimento de bandas comerciais ?
Jalani Horton: Eu não me preocupo muito com a difusão do reggae na mídia. O Reggae mesmo que seja comercial ou original oferece na sua maioria um espírito de harmonia e honestidade que não é destrutivo para as pessoas. As bandas comerciais tem seu lugar, pois eles fazem a ponte entre os novos fãs do Reggae e a música reggae de raiz. Eu não tenho muito que dizer deles. A diferença é que nós não tocamos para entreter e sim para dividir conhecimento, informar e levar a verdade às pessoas.

 Rafael: Deixando um pouco de lado a música, o que cada um de vocês estava fazendo antes de entrar para esse mundo ?
Jalani Horton: Antes de decidir seguir a carreira de músico, fiz graduação em Ciências Políticas e vivi dia após dia sem saber o que queria realmente fazer. Após anos finalmente achei algo que gostei de fazer. Desde 1992 estive ajudando famílias a resolver assuntos e melhorar sua habilidade de comunicação. De alguma forma eu irei sempre fazer isso na minha vida, seja através da música ou da profissão.

Warren Pedersen II: Eu sempre quis ser músico. Antes de fazer parte do Bambu Station, fiz uma graduação em História. Enquanto estava na universidade, me envolvia com música tanto quanto era possível. Participei de várias performances em uma banda de jazz e trabalhei na equipe de som de um promotor de concertos. Eu sempre estive rodeado de música e no último ano dos meus estudos percebi que aquilo me chamava. Eu sei que fui abençoado com um talento e preciso explorar esse presente dado a mim pelo criador.


 Rafael: Muito obrigado por tudo. Nós amamos a palavra, som e poder do Bambu Station. Por favor deixe uma mensagem para os seus fãs do Brasil.
Jalani Horton: Nós agradecemos a você e às pessoas no Brasil que expressam interesse no nosso trabalho. Graças a pessoas como você nós estamos motivados a continuar sempre, mesmo com os obstáculos logísticos e financeiros. Esperamos muito poder visitá-los em 2006, e quando conseguirmos, todos ficaremos alegres, iremos cantar juntos, celebrar o que podemos ser, somos e precisamos ser. Até lá... “Todo homem faz a diferença, tudo faz diferença... todos fazem a diferença”. Paz.


Fonte: Rafael Surforeggae








 
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