::.A História do forró
Introdução
O forró, assim como o samba, possuem as mesmas raízes,
ou seja, ambos se originaram da mistura de influências
africanas e européias. "Na música nordestina,
um toque indígena, uma pitada européia, um tempero
africano; é só degustar..." já citava
um dos especialistas no assunto.
O batuque - dança de roda com que os africanos mostravam
a sua cultura - foi o tronco principal no que diz respeito
à formação da música popular no
Brasil. Dele surgiram diversas variações que
se espalharam tanto em áreas urbanas quanto rurais
sob vários nomes e estilos próprios conforme
a região do país.
Origem da Palavra
A origem do forró é controversa. É certo
que o ritmo nasceu no Nordeste e foi apresentado ao Sul do
país por Luiz Gonzaga nos anos 40. Mas quando, onde
e como ele apareceu lá no sertão ainda é,
de certo modo, um mistério que vem dividindo muitos
estudiosos e músicos. Há a versão mais
popular de sua origem, até transformada em canção
por Geraldo Azevedo em 82, (e relançada agora em sua
coletânea Frutos e Raízes), For All Para Todos:
a de que o nome viria dos dizeres "For All" (em
inglês "para todos"). A frase vinha escrita
nas portas dos bailes promovidos pelos ingleses em Pernambuco,
no início do século, quando eles vieram para
cá construir ferrovias. Se a placa estivesse lá
era sinal de que todos podiam entrar na festa, regada a ritmos
dançantes que prenunciavam o forró de hoje,
essa era a versão defendida por Luiz gonzaga. Nestes
bailes tocavam todos os tipos de música e também
o ritmo precursor do forró atual. A segunda versão
é dada pelo historiador e pesquisador da cultura popular
Luís da Câmara Cascudo, que diz que a origem
é o termo africano "forrobodó", que
significaria festa, bagunça. Em alguns povoados pequenos
do país (como na Ilha Grande- RJ ou na Ilha do Mel-
PR) forró significa bailão popular ou arrasta
pé, onde se dança de tudo.
"Escrevi a música For All Para Todos, que foi
título de um disco meu, quando ouvi uma entrevista
de Luiz Gonzaga e Sivuca na TV, na qual eles contavam essa
história da origem do forró", conta Geraldo
Azevedo, nascido num distrito de Petrolina, no sertão
pernambucano, e com muitos forrós compostos em seus
25 anos de carreira fonográfica. Porém, logo
uma corrente contrária se manifestou: "Na época,
houve protesto de muitas pessoas", diz Geraldo. "O
pesquisador Câmara Cascudo me escreveu uma carta dizendo
que a história de Gonzagão não tinha
fundamento, pois a palavra forró vinha de forrobodó,
expressão que em dialeto africano significa fresta,
bagunça".
Gonzagão, o pioneiro
Controvérsias à parte, quase todo mundo concorda
que sem Luiz Gonzaga, o forró não estaria hoje
aí nos bailes de todo o Brasil como a última
moda musical. O Velho Lua nasceu em Exu, sertão pernambucano,
em dezembro de 1912. Filho do sanfoneiro Januário,
que animava os bailes da cidade nos finais de semana, desde
pequeno ele tomou familiaridade com o instrumento. E, em todos
os lugares aonde ia, Gonzaga procurava experimentar o acordeon
ou a zabumba e estava sempre junto aos músicos. Depois
de uma briga com a mão, aos 18 anos, ele resolveu ganhar
o mundo. Foi para o Ceará, onde entrou para o Exército
e virou cabo corneteiro. Dali andou mais um pouco, chegou
em São Paulo e, finalmente, fixou-se no Rio de Janeiro,
disposto a tentar carreira de músico no rádio.
Antes de se inscrever no programa de Ary Barroso, em 1941,
com a canção Vira e Mexe, com a qual tiraria
o primeiro prêmio e seria contratado pela Rádio
Nacional, ele tocou em prostíbulos e bares de pouca
categoria. :p>
A música nordestina de Luiz Gonzaga sofreu preconceito
no início. O diretor artístico da rádio
nacional não o deixava sequer usar o chapéu
de couro e a roupa de cangaceiro que fariam parte de seu visual
durante toda a carreira no futuro. Porém, mais ou menos
como vem acontecendo hoje em São Paulo e em outros
centros, o forró foi conquistando o grande público,
deixando de ser só uma música para saudoso migrantes
nordestinos ou pessoas de4 classe social inferior. E o modo
poético como Gonzagão cantava sua vivência
dura de sertanejo, as tristezas e por que não?
as doçuras da vida nordestina tão esquecida
pelo resto do Brasil, foi entrando devagarzinho no coração
de todo o país que, na época, encantava-se mais
com os musicais vindos de Hollywood. Quase sessenta anos depois,
com a nova onda do forró, nada mais justo que ver a
música do Velho Lua, morto há nove anos, ser
presença obrigatória nas casas noturnas de todo
o país. E admirada por tantos adolescentes.
Algumas Ramificações do
Forró
a) como dança e música: baião, xote,
xaxado, coco, vanerão, quadrilhas juninas ...
b) como música: forró malícia (principal
representante é Genival Lacerda), lambaforró,
oxentemusic
A primeira Música
Consta como sendo "Baião"- (1946) de Luiz
Gonzaga e Humberto Teixeira, porém podem haver gravações
anteriores.
Como Surgiram os Rítmos que Compõem
o Forró
O baião: sua origem remonta ao século XIX,
no nordeste do país, mas faltam informações
precisas para esse início. Segundo alguns, a palavra
vem de " baiano". O baião veio do lundu e
era dançado em roda; um dos presentes intimava os outros
a dançar por meio de umbigadas e toques de castanholas.
A popularização do ritmo se deu mesmo a partir
da década de 40, com Luiz Gonzaga, pernambucano que
veio para o Rio de Janeiro e gravou inúmeras músicas,
que falavam do cotidiano nordestino. Esse tipo de baião
cantado sofreu influências de outros ritmos, como o
samba e a conga. Nos anos 70, Gil e Caetano com o tropicalismo
e o interesse em resgatar os ritmos genuinamente brasileiros,
deram nova força ao baião.
O baião apresenta diferenças regionais e de
época. Existe o baião de Pernambuco, que é
o tradicional, tocado com sanfona, triângulo e zabumba,
cujos maiores representantes são Luiz Gonzaga e Dominguinhos.
Já o baião de Fortaleza (grupo Mastruz com Leite)
incorporou instrumentos mais modernos, como guitarra e bateria.
O xote: ritmo de origem européia que surgiu dos salões
aristocráticos da época da Regência -
final do séc XIX. Conhecido originalmente com o nome
schottisch, dominou no período do Segundo Reinado incorporando-se
depois às funções populares urbanas,
passando a ficar conhecido como chótis e finalmente
xote. Saiu dos salões urbanos para incorporar-se às
regiões rurais, onde muitas vezes aparece com outras
denominações.
O xaxado: o nome provém do som que os sapatos faziam
no chão ao se dançar; é uma dança
do agreste e sertão pernambucano, bailada somente por
homens, que remonta da década de 20. O acompanhamento
era puramente vocal, melodia simples, ritmo ligeiro, e letra
agressiva e satírica. Tornou-se popular pelos cangaceiros
do grupo de Lampião.
O coco: dança de roda do norte e nordeste do Brasil,
fusão da musicalidade negra e cabocla. Acredita-se
que tenha nascido nas praias, daí a sua designação.
O ritmo sofreu várias alterações com
o aparecimento do baião nas caatingas e agreste. Como
compositor que popularizou o ritmo podemos citar Jackson do
Pandeiro.
O vanerão: é o forró dançado no
sul do país. Caracteriza-se por ser uma dança
em que os pares giram pelo salão com imensa mobilidade
e rapidez.
As quadrilhas juninas: são de natureza rural, da tradição
européia, do culto ao fogo, anteriores ao cristianismo.
A Igreja Cristã adaptou a festa de São João
para absorver os cultos agrários pagãos. No
Brasil a festa é acompanhada de muita música
e dança: a quadrilha (dança das Cortes européias),
o baião, o xote entre outros.
Atualmente o forró está sofrendo alterações
em relação ao seu perfil original com o surgimento
de novos grupos musicais e o sucesso que está fazendo
entre os jovens. "A maioria destes grupos se formou após
a febre da lambada, e a música que eles fazem é
chamada de lambaforró ou oxentemusic. A dança
também se modificou, assimilando passos da lambada
(principalmente os giros)" afirma Dominguinhos. Diz,
ainda, "que da mesma forma que o pagode ressuscitou sambistas
antigos, como Martinho da Vila e Paulinho da Viola, os novos
grupos de forró estão ajudando a divulgar o
ritmo e suscitar interesse nos velhos mestres, como ele e
Gonzagão". Podemos concluir, portanto, que o forró
é um caldeirão de culturas de várias
épocas e regiões que vai se modificando e se
adaptando a cada geração.
A mistura do forró
Ao lado de Luiz Gonzaga não podem faltar compositores
consagrados no forró como Dominguinhos, um dos herdeiros
de sua sanfona animada. Ele já gravou até um
tributo ao mestre, Dominguinhos e Convidados Cantam Luiz Gonzaga,
dois CDs duplos da gravadora Velas. Não dá para
esquecer Jackson do Pandeiro "que desenvolveu o côco,
outro ritmo nordestino, de forma festiva e o incorporou ao
forró", segundo Geraldo Azevedo. Por seu lado,
Alceu Valença acaba de lançar o disco Forró
de Todos os Tempos (Sony) onde dá uma pincelada histórica
no ritmo com músicas inéditas e regravações
de Jackson e Gonzagão. :p>
A esta altura muitos devem estar se perguntando "mas,
se Luiz Gonzaga era o rei do Baião, o que isso tem
a ver com forró?". Geraldo Azevedo dá a
explicação: "A base rítmica do forró
é principalmente o baião, aliado ao xote, ao
xaxado e também ao côco. Estes juntos fazem uma
festa daquelas", conclui o compositor pernambucano. Ele
acrescenta que há várias maneiras de se tocar
forró e se diz satisfeito de ver o ritmo nordestino
tomar conta dos jovens de classe média e alta: "No
tempo da ditadura houve um sufocamento da nossa cultura, pois
quase tudo era considerado subversivo. Hoje os jovens estão
redescobrindo o Brasil, e com ele o forró. Sinto-me
honrado e feliz até porque tenho 25 anos de estrada
na música e meu público, em sua maioria, tem
hoje entre 16 e 20 anos. Sinto-me renovado. Parece que estou
descobrindo minha carreira de novo". :p>
Fonte: Revista Forró Mania Sigla Editora
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